O Estranho Misterioso — Mark Twain

Quer saber qual foi minha experiência ao ler O Estranho Misterioso? Então puxa a cadeira, chega mais e liga o som que esta é uma história hardcore. É, com certeza, uma história que suscita muitas reflexões e logo nas primeiras páginas me veio à memória a música Amaranth, da banda finlandesa Nightwish.

Baptized with the perfect name
The dawning won by heart
Alone, without himself

Batizado com um nome perfeito
O duvidoso de coração
Sozinho sem ele mesmo

O Estranho Misterioso é um conto escrito pelo autor norte-americano Mark Twain. Twain nasceu em 1835 e faleceu em 1910 com 75 anos, o conto, Estranho Misterioso fora publicado seis anos após a sua morte. Intrigante, o último conto de Twain foi meu primeiro contato com o autor, e digamos que, este conto em específico possui características diferentes do “nicho” das histórias que Twain escreveu ao longo de sua vida.
Twain é conhecido por obras populares, cheias de humor, e sua obra “post-mortem” parece fugir à regra segundo os próprios editores responsáveis pela publicação que eu li. (particularmente, apesar de não ter lido outros títulos do autor, considero O Estranho Misterioso um conto com uma pitada de digamos “humor ácido”).

Vamos à sinopse:

The_Wounded_Angel_-_Hugo_Simberg
The Wounded Angel (1903) – pintura de Hugo Simberg (1873–1917)

No ano de 1590 em a aldeia Eseldorf, na Áustria medieval, recebe a visita de um estranho. O estranho se apresenta a um grupo de três garotos que ficam maravilhados com ele, pois este estranho é capaz de fazer coisas inimagináveis como criar vinho do nada, dar vida à bonecos de lama entre muitas outras coisas. Quem é essa criatura que parece humana mas é capaz de fazer coisas tão maravilhosas?

A história é narrada em primeira pessoa por um dos garotos chamado Theodor Fischer. O estranho se apresenta para os garotos como sendo um anjo e seu o nome é um tanto, peculiar… (justamente isso me fez recordar da música Amaranth “Baptized with the perfect name, The dawning won by heart”…)

You believe but what you see
You receive but what you give

Você acredita, mas o que você vê?
Você recebe, mas o que você dá?

Não espere ser a mesma pessoa depois de ler o último conto de Mark Twain. O conto é ambientado em uma Europa Medieval, e o problema com as “Bruxas” serviu ao autor para alfinetar o leitor, muito bem, sobre a perversidade humana.  Aliás, diga-se de passagem que a “caça às bruxas” e o mundo medieval, são geralmente usados como uma boa metáfora por muitos autores (vide Katherine Howe).

O estranho misterioso apresenta-se como sendo um anjo, e seu objetivo naquela pequena aldeia é apenas curiosidade. As intervenções do anjo à princípio maravilham os garotos, mas no decorrer da história isso acaba por desencadear eventos que trazem certo sofrimento. Digamos que, para evitar um sofrimento maior é provocado um mais forte, no entanto mais rápido. Todas as ações feitas provocam consequências, a retirada do sofrimento em vida de um ser pode provocar o sofrimento eterno de outro. E o que isso afeta o anjo? Em nada, porque para uma criatura imortal a vida humana é tão breve que é o equivalente ao que é a vida de uma mosca ou uma formiga para nós.

“Reprime seus sentimentos e suas crenças e segue o grupelho que faz mais barulho. Às vezes o grupelho barulhento está certo, às vezes errado. Mas não importa, a multidão o segue. Quase todas as pessoas da sua raça, sejam selvagens ou civilizadas, secretamente têm bom coração e evitam infligir dor, mas na presença da minoria agressiva e impiedosa elas não ousam se afirmar. Pense nisso!” (O estranho misterioso)

Estranho misteriosoO conto questiona muito sobre os valores humanos, nosso “senso de moral” é traduzido como uma verdadeira excrotidão e lixo humano. O que dizemos ser animalesco é revelado como essencia da natureza humana e de animal não há nada, pois os animais não possuem “senso de moral”. Nós humanos, conhecedores do bem e do mal e por isso se torna ainda mais podre nossos atos. É um conto que vai mexer muito com você e sua percepção do mundo, pois toca na ferida, é possível que até o fim da história você possa criar um sentimento de descrença, mas não se desespere, apenas reflita, porque o mais chocante ainda está por vir. Sim, o desfecho do conto é de tirar o tapete e me fez lembrar da teoria feita pelo filósofo Nick Bostrom.

Bem, a minha sugestão é você ler o conto de Mark Twain pra gente conversar mais sobre esse estranho desfecho, ou até, para podermos conversar mais sobre a associação entre Amaranth O estranho misterioso. O que você acha?

estrelas julia

Juh

 

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